Um dos meus lugares favoritos para beber no centro da cidade é a Spaguettilândia. Fica numa daquelas ruas transversais a Álvaro Alvim, atrás da Cinelândia. É uma casa de massas que tem trocentos anos, com um ótimo buteco do lado de fora e mesas espalhadas pela rua. Não deixe de almoçar um espaguete quando estiver por aquelas bandas, o preço é honesto.
Descobri recentemente a importância que o lugar tem para o cinema brasileiro. Ler a história do cinema brazuca é ler sobre o Cinema Novo, Glauber Rocha e companhia. As pornochanchadas são apenas citadas rapidamente, como sendo obras populares e sem valor estético.
As pornochanchadas foram importantíssimas para o cinema nacional, eram esses filmes que levavam a massa às salas. Se alguém escrevesse a história do cinema brasileiro pela ótica do público, o Cinema Novo estaria renegado a poucos parágrafos, já que poucos pessoas curtiam os cinemanovistas.
O esquema de distribuição dos filmes naquela época (década de 70, início da 80) era muito diferente. A Cinelândia possui esse nome por conta do alto número de cinemas que eram abrigados ali (agora só existe um, o Palácio fechou recentemente), por isso os escritórios de muitos produtores (não raro eram também diretores) ficavam na rua Álvaro Alvim. Eles negociavam diretamente com os donos das salas a exibição. Muitas vezes o filme nem estava pronto, os dois conversavam, produtor e exibidor, e caso se chegassem a um termo comum, o produtor recebia uma promessa de pagamento.
Agora o esquema é outro. Os cinemas não são mais independentes, duas grandes redes possuem quase todos as salas do país.
Mas o fato é que a Spaguettilândia recebia todo esse povo em suas mesas, roteiritas com seus textos embaixo dos braços, diretores e técnicos que discutiam ali os próximos projetos. Muito do cinema brasileiro surgiu ali, muitas idéias foram concebidas e ganharam corpo entre cervejas servidas por garçons trabalham lá até hoje.
Depois de descobrir isso passei a gostar ainda mais de lá. Recomendo a todos que assistam o documentário O Galante Rei da Boca (facilmente baixável), que conta um pouco essa história.
Enfim, outro dia lá estava eu, na Spaguettilândia, degustando uma deliciosa cerveja gelada em um encontro em família que não lembro a última vez que aconteceu igual, quando apareceu um desses grupos de pagode que vão passando de bar em bar enxendo o saco das pessoas. Como já tinha pensado em documentar mais essa manifestação cultural, puxei minha máquina e gravei alguns segundos:
Reparem como o grupo percebe que estou filmando e fazem caras e bocas. Deve ser por isso que eles ficaram putos porque não dei nenhum dinheiro.
Na boa? Acho isso insuportável, música ruim que impede a continuidade de uma conversa agradável. Mas faz parte da cidade e acho que sentiria saudade caso algum dia eles deixem de passar.
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