Religião nunca foi algo importante para mim. Nunca senti falta e não preciso disso para ser uma pessoa boa ou feliz. Por um lado ela é socialmente importante para manter certas relações entre as pessoas, mais ou menos o mesmo papel da polícia, por outro lado torna as pessoas ignorantes.
Uma das poucas coisas boas são os feriados, e por mais ateu que sejamos acabamos influenciados por esse clima natalino. Isso me fez lembrar uma história que aconteceu comigo e que para algumas pessoas é uma das muitas provas da existência de Deus. Não para mim.
Foi durante a adolescência que eu comecei a questionar a religião e o cristianismo. Estava no pré-vestibular, pretendia estudar ciências sociais e freqüentemente discutia o assunto com amigos. Certo dia estava eu com o Thiago (que fez o curso no IFCS, UFRJ) no Largo da Carioca quando paramos para ouvir a pregação de um desses doidos que ficam sozinhos em praças com a bíblia em punho, tentando angariar mais algumas almas para a salvação e mais alguns trocados para o pastor.
Começamos a discutir a existência de Deus com o maluco, falamos que não acreditávamos em Sua existência e questionávamos alguns pontos contraditórios da bíblia. Em poucos minutos ficamos cercados por diversos outros crentes, com suas vestimentas características e indignados com tamanha heresia.
Disposto a acabar com a discussão, o crente com quem começamos a conversa perguntou a data do meu nascimento e profetizou:
- Eu acredito que meu Deus, até o dia do seu aniversário, vai te converter. Tenho fé que até o dia no seu aniversário você irá acreditar Nele!
Não lembro exatamente o mês em que isso aconteceu, mas deviam faltar uns seis meses para a profecia.
Estava labutando no dia do meu aniversário. O ano era 2001 e trabalhava como analista de dados de uma empresa de engenharia. Na data profética estava na rua, fazendo trabalho de campo. Sentado no banco do carona, o carro parou no sinal e fomos abordados por um surdo mudo que vendia adesivos para os motoristas que aguardavam. Eram adesivos religiosos, vi que Nossa Senhora estava estampada em alguns exemplares, e comprei um para ajudar. Só reparei na imagem do que comprei quando cheguei em casa, já de noite. Era uma ilustração de Jesus que olhava para quem segurava o decalque de frente, e logo abaixo lia-se a inscrição:
Continuarei te olhando até que me entendas.
Não achei a imagem no Google, mas parecia com esta
Lembrei do fato ocorrido no Largo da Carioca e fiquei boquiaberto com a coincidência. Parecia que o próprio estava me alertando, que não descansaria enquanto eu não O aceitasse.
O adesivo ficou guardado alguns anos na gaveta até um dia que resolvi colar na janela do meu quarto, que pouco tempo depois quebrou e foi para o lixo.
Alguns amigos para quem contei a história ficaram convencidos que recebi uma mensagem divina. Não para mim.
Mas de qualquer forma, o profeta errou. Eu não me converti no dia do meu aniversário.
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