Quando comecei este blog, em janeiro de 2008, o objetivo primordial era comentar sobre coisas da Ilha, principalmente botequins. O título da página era Guia Alternativo da Ilha do Governador, só com o off da programação insulana. Com o passar do tempo outras coisas foram acrescentadas, mas a essência continua a mesma.
Estimulado pelo lançamento do Guia Carioca de Gastronomia de Rua, vou fazer a versão insulana da publicação, revisitando o melhor do que é servido nas ruas do bairro.
Cabe minha definição de comida de rua: aquela que não possui seu processo produtivo restrito à um imóvel, podendo ser deslocado para qualquer logradouro com facilidade. São exemplos as carrocinhas (cachorro quente, churros, tapioca) e barracas montadas diretamente nas ruas.
Já selecionei alguns e estou aceitando sugestões:
Acarajé da Baina Rose, perto do Supermercado Assaí (tecnicamente não é de rua, mas como a Rose passou muito tempo nesta condição, vou considerar)
Caldos da Feirinha da Colinha
Sushi da feira da Ribeira
Yakissoba da feirinha do ExtraCroquete de Camarão da feira do Cacuia |
Infelizmente essa é uma cultura combatida pelo poder público e pelas classes abastardas da cidade. Essas pessoas, principalmente depois da chegada da Família Real, sempre mostraram sua vontade em transformar o Rio em uma cidade típica européia, inclusive no vestuário, nitidamente incompatível com o clima brasileiro, e na arquitetura, vista na grande quantidade de prédios que reproduzem construções européias (o Theatro Municipal, o Petit Trianon, a sede social do Clube Naval entre outros).
Essa transformação é, muitas das vezes, feita de forma brusca, com muita violência e deslocamento de comunidades inteiras sem o menor suporte para os desalojados. Exemplos clássicos são a construção da Avenida Central (atual Rio Branco) e Avenida Presidente Vargas.
O prefeito Pereira Passos, no início do século XX, criou a operação Bota Abaixo, demolindo cortiços, exterminando ratos e mosquitos e vacinando à força cidadãos contra a varíola. O resultado foi a Revolta da Vacina, que transformou a cidade, então restrita ao que hoje é o Centro, num verdadeiro campo de batalha, com lojas depredadas, barricadas nas ruas, mobiliário público e bondes destruídos, tiroteios e aproximadamente 50 mortos.
Lembrando também a remoção do Mangue, antiga área de prostituição localizada onde hoje está o Centro de Convenções Sulamérica. As prostitutas desalojadas compraram um galpão com o dinheiro da indenização e criaram nossa querida Vila Mimosa. O mais banana nesta história é que o prédio da prefeitura, que foi construído na área do antigo Mangue, foi apelidade pela população de Piranhão, referência à principal atividade econômica antes exercidada na região.
O problema não é o combate à epidemias e a realização de melhorias para a cidade. O problema é como esse processe tem sido feito historicamente, na base da violência e sem propor alternativas para a população. Sem dúvida, grandes avanços foram feitos, mas o pagamento por isso foi o sofrimento e morte do lado mais fraco.
Agora, o prefeito Eduardo Paes retomou essa ideologia com a Operação Choque de Ordem. Um amigo voltou recentemente da Europa e contou que nas ruas não existem ambulantes vendendo comida como aqui. O máximo que acontece são trailers ao redor de estádios esportivos em dias de competição ou concertos musicais. E é assim que parte da população quer o Rio, e partiram para ofensiva derrubando barracas com tratores, batendo em ambulantes e roubando suas mercadorias. Os guardas municipais me lembram os antigos torturadores da ditadura, que iam para casa brincar com seus filhos e levar a família para almoçar fora depois de sessões de espancamentos em jovens e mulheres.
Por isso, a venda de alimentos nas ruas está constantemente ameaçada. Precisamos contra-atacar, mostrando o valor cultural que essa prática possui e, que ao contrário de uma minoria detendora do poder econômico e político, não queremos que o Rio se transforme numa filial de Paris.
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