O alemão Ernest Ebel (...) observou que a sujeira nas ruas cariocas era consequência da falta de educação do povo e não do descaso do governo brasileiro, que se empenhava em transformar a cidade numa verdadeira capital, nos moldes europeus (...).
O relato acima poderia ter sido escrito por um estrangeiro depois de freqüentar um bloco de carnaval do Rio de Janeiro, mas não, foi escrito em 1824 (fonte). Os hábitos higiênicos do carioca sempre foram motivo de muita discussão, e isso pode ser visto nos relatos dos viajantes que aportaram por aqui a partir do século XIX, principalmente depois da chegada da família Real.
Realmente a cidade era uma imundície, estou lendo alguns livros sobre a história do Rio e a população vivia ininterruptamente com doenças conseqüentes de uma vida insalubre, sendo as mais comuns a varíola, febre amarela, peste bubônica e tuberculose.
O que também sempre foi constante é a briga entre o poder público e a população numa tentativa de mudar esses hábitos. Um dos prefeitos mais combativos nesse sentido foi Pereira Passos, que, por ordem do federal, mandou vacinar a força os cariocas, resultando na Revolta da Vacina. Veja chamada da Gazeta de Notícias de 14 de novembro de 1904:
Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados à pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz.
O centro da cidade virou um campo de batalha, lojas destruídas, troca de tiros, 50 mortes, estado de sítio.
O centro da cidade virou um campo de batalha, lojas destruídas, troca de tiros, 50 mortes, estado de sítio.
Caça aos mijões
Atualmente a história se repete, com a forte fiscalização da prefeitura para impedir que as pessoas urinem nas ruas. A irreverência, sempre presente em todos os momentos da história carioca, também se faz presente, conforme pode ser visto na placa abaixo:
A GMR (Guarda Municipal do Rio) está sendo chamada de Guarda Manja Rola, que fica procurando os mijões pelas ruas no lugar de proteger a população da atuação de batedores de carteiras e outros delinqüentes.
Talvez, num futuro próximo, assim como olhamos os hábitos higiênicos do Rio no século XIX com asco, olharemos para o ano 2011 do mesmo jeito, imaginando como era horrível urinar nas ruas.
Mas o fato é que não existem banheiros públicos suficientes para atender satisfatoriamente os foliões. Eu mesmo, ontem, fiz na rua duas vezes, e não tenho nenhum constrangimento em dizer isso e repetirei o ato caso seja necessário.
Não vou entrar nesta discussão, a falta de estrutura para o carnaval é fato, só queria fazer essa ligação da confusão causada pela atual repressão aos mijões com a história do Rio.
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