Quando minha digníssima estacionou o carro e vi que o nome do restaurante era Trem do Norte, comecei a listar os pratos que poderia pedir para o almoço, diante de um olhar de reprovação: pato no tucupi, tacacá, maniçoba...
- Maniçoba não! Maniçoba a gente não come em lugares que não conhecemos! Retrucou minha digníssima.
Cabe aqui uma rápida explicação: maniçoba é um prato típico do Pará que consiste em folhas de mandioca cozidas por uma semana, com carne de porco, bovina entre outros ingredientes. É conhecida como feijoada paraense, e o longo período de cozimento é para retirar todo o ácido cítrico da planta, que é extremamente venenoso.
Mas, ao contrário do que o nome sugere, aquele trem é nordestino, o que acabou com minha minha chance de comer o perigoso prato e outras delícias do Pará e Amazonas. Mas tudo bom, o nordeste nunca me decepcionou.
Como gosto daquela região! Para quem é de lá, comer bem é comer muito. Fiquei pensando em um texto que explicasse essa relação mas a tarefa é cruel depois que Lira Neto já fez isso de forma maestral. Reproduzo abaixo um trecho de uma postagem publicada em seu blog:
Na canção "Respeita Januário", no momento em que Gonzagão entremeia a melodia com hilários trechos falados, ele sapeca a observação, a respeito de si mesmo: "Tá gordo que parece um major". É tão engraçado quando definidor de um traço de cultura ancestral e genuinamente nordestino: no sertão, a prosperidade do sujeito é avaliada pela circunferência da pança.
Talvez venha daí o estereótipo do coronel sertanejo como um indivíduo balofo, a barriga proeminente de latifundiário saltando por baixo do paletó de casimira branca. Talvez, também, o conceito que associa a riqueza à gordura - e a magreza à miséria - emane de certas cenas brutais que nos acostumamos a ver e que até hoje, infelizmente, permanecem atuais: a cada estiagem na região, levas de retirantes esquálidos vagando ao léu, sem terra, sem tostão e sem chuva. Gente reduzida a pele e ao osso. Por isso, quem sabe, para o bom nordestino, contrariando o que dizem os especialistas preocupados com a verdadeira epidemia de obesidade que ora assola o país, gente é igual a boi: quando mais gordo, mais bonito.
O Trem do Norte mantém essa tradição que tanto aprecio, porções generosas que sempre alimentam o dobro das pessoas informadas no cardápio.
Para abrir o apetite (acreditem, por mais fome que você tenha, ele sempre vai precisar ser "aberto" quando for lá) pedimos capirinhas. Achávamos que viriam naqueles copos baixos que costumam servir refrigerantes, mas dá uma olhada:
Caipirinha long drink do Trem do Norte |
Elas vieram em copos long drink e com uma apresentação muito boa, sem falar no sabor que estava incorrigível.
Depois desta ótima primeira impressão, fomos escolher o almoço. As opções são bem tradicionais: feijoada, costelinha de porco, peixes, churrasco, caldos e carnes diversas entre outras. Escolhemos baião de dois com carne seca, que segundo o simpático garçom, sempre é melhor que carne-de-sol. Infelizmente o aipim tinha acabado (é estranho um restaurante nordestino não ter aipim, mas o movimento do final de semana deve ter sido muito grande), por isso a porção veio com batatas fritas.
Porção para duas pessoas de baião de dois: R$29,00 |
Duas pessoas nada. Comemos satisfatoriamente e levamos o resto para casa. Como é uma refeição de digestão demorada, só fomos jantar às 11 da noite e novamente ficamos satisfeitos.
Fiz questão de cumprimentar a todos no final. Falei com a cozinheira, com o caixa que fez as caipirinhas e com o garçom bonachão que tão bem nos atendeu. Foi bacana, acho que eles não estão acostumados com clientes assim. Quando você for lá, faça o mesmo, eles merecem.
Serviço
Baião de dois com carne seca para duas pessoas: R$29,00
Caipirinha de cachaça: R$5,50
Na hora do almoço são servidos PFs por R$10,00.
Praia da Guanabara, 673 - Freguesia - Ilha do Governador
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