Outro dia vi escrito na camisa de um cidadão: Bíblia sim, Constituição não.
Postei no Facebook admirado com o fato de ainda hoje existirem pessoas que acreditam na teocracia. O Léo, sempre astuto, comentou que ainda hoje existem pessoas que acreditam na Constituição.
Não vou explicar o que é teocracia e nem o caminho que a humanidade percorreu para atingirmos este nível de sociedade, que obviamente não é perfeita mas está a anos luz de distância da proposta pelo cidadão acima.
Este fato me fez lembrar um outro, ocorrido com minha digníssima sogra. Ela foi abordada por uma equipe que estava produzindo mais um documentário sobre o Profeta Gentileza. Questionada sobre o que achava desta folclórica figura, ela foi a única emitiu uma opinião não favorável. Falou da importância do trabalho do profeta em uma área tão degradada da cidade, mas a mensagem que ele deixou é extremante reacionária e positivista.
Dentro do ônibus tenho tentado ler seus escritos. Ele faz ataques ao capitalismo e ao trabalho, alegando que deveríamos viver apenas do que Deus nos fornece gratuitamente através de árvores frutíferas. A sociedade deveria ser guiada pela palavra divina. Além disso, em duas pilastras vi elogios diretos ao ex-presidente Collor, que todo mundo (menos os eleitores de Alagoas) sabe quem é.
Realmente Gentileza era reacionário e teocrático, que propagava conceitos morais completamente ultrapassados e inaplicáveis à vida atual.
Mas mesmo depois de passar boa parte do final de sua vida pintando o viaduto e pregando na rua da Alfândega com seu estandarte na mão, a única mensagem que ficou foi a que gentileza gera gentileza. Talvez porque ninguém tenha parado para ouvir suas palavras ou tentado entender suas confusas frases. Ou ainda porque essa tenha sido a única coisa que pudesse ser aproveitada.
O fato é que mesmo depois de gastar latas e latas de tinta condenando o carnaval, Gentileza virou enredo da Grande Rio em 2001. Esse é o jeito carioca de levar a vida.
Que bom.
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