Excelente reflexão da minha digníssima sogra na postagem sobre a Taverna do Minho. Achei melhor compartilhar com todos aqui.
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É triste ter de apontar como 2011 repete 1911, naquela época, quando se inaugurou o Theatro Municipal na recém-aberta Avenida Rio Branco, por conta da urbanização civilizatória, centenas de quiosques, casas de pasto e tendinhas que funcionavam para além da rua da Assembleia foram destruídos para construção de arranhas-céus (aqueles sobradões de 5, 6 andares) com restaurantes e leiterias no térreo, mas a gente pobre que não tinha dinheiro para esses novos estabelecimentos ficava sem alternativa, além de ser obrigada a comprar sapatos, caso pretendesse ontinuar a circular pelo Centro. Uma lei proibia que pessoas descalças usassem ou atravessassem a nova avenida, era comprar um par de segunda mão ou perder o emprego. A revitalização Pereira Passos ignorou a intensa vitalidade dos cortiços e ruas elameadas (o João do Rio que o diga), e ao invés de proporcionar aos moradores originais condições dignas de uma capital que se queria moderna, expulsou-os, a alguns para ocupação da Zona Oeste, mas principalmente para cima dos morros, para as também recém-inventadas favelas.
Rua Larga, atual Marechal Floriano |
Aqueles que são farta e nutritivamente alimentados nas Tabernas Minho do Centro velho serão encaminhados com seus vales para para as carrocinhas de x-tudo e dogs, porque as lanchonetes e self-serves não conseguem lhes dar comida suficiente pelo mesmo preço; serão assim precocemente empurrados para a hipertensão e o mau colesterol, o SUS e a hipermedicação. O que farão os estupefatos proprietários da taberna Minho e do bar do Jóia quando descobrirem que estão totalmente irregulares em relação a dezenas de laudos de segurança ambiental, que não estarão vendendo um negócio mas apenas um terreno, caso sejam os proprietários? E as cozinheira e ajudantes, como se reinsertarão no mercado de trabalho das cozinhas industriais sem gosto e sem tempero? Eu fiquei muito mal impressionada com a rua da Conceição e a Travessa Julia Lopes de Almeida, tudo já está tão irremediavelmente arruinado e descaracterizado que não resta nenhum argumento legal contra o bota-abaixo. Se alguém não começar a inventar algum equê rápido para a Av. Marechal Floriano (parada gay, desfile de moda na Vilarinho, jongo no largo de Santa Rita), quando você quiser comprar um novo panamá vai ter de ir ao Fashion Mall.
Como diria Lima Barreto, é só.
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