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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Desfile da União da Ilha

Saí aturdido da Sapucaí. Disse para digníssima que queria escrever sobre o que tinha passado, mas me sentia incapaz de relatar aquela sensação. Ela, do alto de sua experiência (que já saiu na bateria, como passista, em carro alegórico, em ala coreografada...), disse para eu esperar a adrenalina passar que conseguiria fazer uma análise.

Meu primeiro ensaio foi no Sambódromo e eu estava muito nervoso, principalmente por conta da coreografia. Decorar movimentos e encaixá-los numa música nunca foi uma habilidade pela qual eu tenha me dedicado ao longo da vida, mas mesmo assim, confiando mais em mim do que eu, a digníssima me inscreveu para uma ala caso abrisse uma vaga. Desta forma, estreei na Sapucaí.

Sou uma pessoa comum, com um emprego comum e que faz coisas comuns. Não pratico esportes radicais e não trabalho com alguma atividade arriscada. Por conta disso, meu corpo não costuma receber doses altas de adrenalina, como aquelas que inundam a corrente sanguínea de alguém que pula de um avião ou troca tiros com traficantes na favela. Mas dobrar a Presidente Vargas e entrar na Marquês de Sapuacaí, ver as arquibancadas cheias, a bateria tocando dentro do seu peito, centenas de pessoas cantando a mesma música em estado de total euforia, faz com seu corpo a mesma coisa que um pulo de bungee jump faz, só que esse pulo dura 30 minutos.

Ala O Mar da Era Dourada
Apesar de toda essa empolgação, a coreografia deve ser executada e o samba cantado. É grande a responsabilidade, já que a pontuação da escola depende de cada integrante. E são muitas coisas na avenida que tiram a concentração, como fotógrafos, cinegrafistas, os responsáveis pela evolução gritando e as passistas.

E as passistas? Ah, as passistas. Se só elas desfilassem na avenida já seria espetáculo suficiente para tornar o Carnaval uma das maiores e mais bonitas festas do mundo. Perco a concentração, erro a letra, esqueço os passos da coreografia, tudo por conta das passistas com seus corpos sensacionais, em saltos altos e trajes sumários executando movimentos que só acredito serem possíveis porque estou lá, assistindo ao vivo, embasbacado. Fico imaginando o motivo pelo qual eu, um simples mortal, possuo o privilégio de deslumbrar aquela cena.

O que me ajuda muito é o apoio da minha digníssima, que trabalha com arte e espetáculos desde muito nova e já se apresentou com a Xuxa em estádios lotados com milhares de pessoas. Ela tira de letra tudo isso, mas para mim é tudo novo. Filha de alemão, possui pele alva como a neve e olhos verdes. Quando vamos ao samba juntos todo mundo acha que ela é gringa, mas quando começa a dançar ninguém fica com dúvida quanto seu sangue carioca e cheio de gingado correndo nas veias.

Assim como soldados do Bope treinam exaustivamente a incursão nas favelas, os ensaios também automatizam nossos movimentos, nos deixando confiantes e afastando o medo de que algo saia errado. Agora é só alegria e anciosidade. Não vejo a hora de brincar à vera.

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