Quando comecei a militar pela causa da bicicleta, não sabia que a luta passava muito além do simples direito de ir e vir pedalando. São muitas outras questões que envolvem não só a mobilidade, mas a cidade inteira.
Outro dia deixei um comentário num blog de um cidadão que questionava o cicloativismo, dizendo que era bobagem, já que seria impossível pedir para um operário pedalar 30 quilômetros da periferia onde mora até o trabalho. Ele não percebia que o problema é justamente este, morar a 20, 30 ou mais quilômetros do local de trabalho. É, além disso, não contar com um sistema de transporte pensado para o cidadão e não para os donos das empresas de ônibus, como o atual em voga na maioria das cidades brasileiras.
Em São Paulo este tipo de cena é bem comum: uma favela localizada na região central da cidade pega fogo. Poucos meses depois é erguido no local um prédio comercial ou um condomínio. Os moradores que ali viviam são obrigados a se mudar para a periferia, a muitos quilômetros do local de trabalho.
No Rio a desculpa são os megaeventos, com a remoção da Vila Autódromo e de um terço das casas do Morro da Providência. O vídeo abaixo deveria ser assistido por todo carioca. A prefeitura, sem nenhum diálogo com os moradores, simplesmente chega botando tudo abaixo. Não é um governo assim que eu quero, quero que o prefeito construa as políticas públicas dialogando com a população.
Infelizmente esta não é uma prática nova. Pereira Passo ficou famoso pelo Bota Abaixo no início do século passado.
Em resumo:
- Somos contra as políticas de remoções, que em nome da especulação imobiliária e em favorecimento de empreiteiras expulsa de forma violenta moradores pobres das áreas centrais;
- Somos contra as políticas que favorecem o transporte individual em detrimento do transporte de massa;
- Somos contra a promiscuidade entre o prefeito, que recebe milhões dos empresários de transporte para financiamento de campanha, e seus patrocinadores, que mantêm este sistema caótico e que oprime diariamente o cidadão carioca em longos e estressantes engarrafamentos;
Queremos mais praças, parques e locais de convivência públicos. São nos encontros físicos entre todos os tipos de cidadãos que a cidade abarca (brancos, negros, idosos, deficientes, crianças, judeus, árabes, gays, esportistas etc) que a intolerância se dissipa. Se não concordamos com a opinião alheia, pelo menos aprendemos a conviver com ela de forma respeitosa.
São nos encontros físicos que surgem as idéias para novos projetos. Que discutimos maneiras de melhorar a vida na comunidade. Revoluções são organizadas.
Mais um vídeo muito bom sobre a retomada das praças pelos cidadãos:
Como não construir uma praça
Cais do Valongo |
A praça acima é o Cais do Valongo. Nenhum outro porto no mundo recebeu tantos escravos quanto este, foram mais de um milhão. Local de extrema importância cultural para o Brasil, já falei dela aqui algumas vezes.
Analisem a praça. Ela foi feita para afastar as pessoas. Não possui bancos e nem sombra. No sol, aquelas pedras refletem a luz, aumentando o calor e dificultando a visão por causa da claridade. Ninguém fica ali, ela é desagradável, incomoda, inóspita. Agora me respondam: qual o interesse da prefeitura em afastar as pessoas uma das outras?
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