Sou zé pilintra (assim mesmo, com letras minúsculas). Sou um apaixonado pela alma encantadora das ruas, com seus personagens, suas histórias, encontros, desencontros, desejos, pecados, sua luxúria, crimes e sonhos. Alguns dos meus melhores momentos aconteceram em mesas espalhadas pelas calçadas, cerveja gelada e amigos.
A Barra da Tijuca é um bairro que me assusta. Na verdade, nem considero aquilo um bairro. Não tem vida nas calçadas, não tem comércio de rua. Todos os serviços para seus moradores são oferecidos em réplicas dentro dos condomínios, tudo soa falso, tal qual a estátua da liberdade do New York City Center. É difícil se locomover por lá sem carro, as ruas não foram feitas para as pessoas. Atravessar uma avenida é uma odisséia, é preciso andar quilômetros e esperar vários sinais fecharem.
Talvez venha desse meu amor pelos logradouros público a minha felicidade ao pedalar. Me sinto tão a vontade em cima de uma bicicleta quanto sentado numa mesa de bar. São nestes momentos que mais sinto a cidade, nos quais me conecto com a rua e, consequentemente, com os prédios, parques, praças, alamedas, travessas, montanhas, mares e com todas as pessoas. É o meu momento de transcendência, de ligação com o universo e todas as coisas vivas.
Diante disse, reivindico meu direito à rua. Como cicloativista, minha luta vai além da busca por espaços para bicicletas e respeito no trânsito. A gente acaba pensando na cidade como um todo, na criação de locais públicos que atraiam as pessoas, e não o contrário.
Dizem que meu quarto é uma zona, mas prefiro definir como um mix de símbolos. Meu quarto, minha mesa de trabalho, minhas gavetas, tudo é um caos, porque é no caos que surge meu processo criativo. Meus bolsos também seguem esta linha, com cartões, papéis, dinheiro, moedas, documentos entre outras coisas misturadas e amassadas. Para achar alguma coisa é preciso esvaziar tudo. Quando pedalo, costumo acrescentar a estes itens o CTB de Bolso, um pequeno guia com os principais artigos do Código Brasileiro de Trânsito que citam a bicicleta.
Certo dia, depois que um ônibus passou muito perto de mim, colocando minha vida em risco, fiz a tradicional abordagem ao motorista que teve que parar num ponto mais adiante. Falei do perigo que é passar tão perto do ciclista e pedi para ele ter mais atenção da próxima vez. Esta abordagem é muito rápida, não dá para enrolar muito. Como ele foi simpático, rapidamente tirei do bolso uma cópia do CTB e ofereci, que foi aceita com bom grado. Junto com o código foi junto um pedaço de papel, que só depois percebi se tratar de uma nota de vinte.
É isso mesmo, meus amigos. Dei vinte reais para o sujeito que quase me matou.
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Já que estamos falando de bicicletas, segue release da exposição Ciclo Rotas do Centro. Fui na abertura e o trabalho ficou muito bom. Espero que saia do papel. Vai lá, dá essa força.
Uma malha cicloviária para o Centro do Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro está empreendendo a desafiadora tarefa de recuperar e revitalizar sua área central. Apostando que a articulação entre a requalificação do espaço público e a mobilidade em sua pequena escala – pedestres e ciclovias – tem um papel fundamental na construção de uma cidade mais humana e sustentável, desde julho de 2012 a Transporte Ativo, o ITDP Brasil e o Studio-X Rio iniciaram um estudo de mapeamento da demanda de uma malha cicloviária para o Centro do Rio de Janeiro, através de uma metodologia participativa que inclui o diálogo com ciclistas e demais indivíduos interessados na expansão da infraestrutura cicloviária na cidade.
A exposição Ciclo Rotas Centro apresenta os resultados deste trabalho, e convida a todos a participarem do diálogo sobre a mobilidade que queremos para nossa cidade.
Exposição de 24 de julho a 01 de novembro
Studio-X Rio - Praça Tiradentes, 48
A exposição teve o patrocínio do Banco Itaú.
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