Muita gente não entendeu porque no Rio e em São Paulo, além de muitas outras cidades do mundo, um grupo de ciclistas se reúne todo mês de março para pedalar sem roupa pela cidade. Para os moralistas, é pouca vergonha, um protesto sem sentido que tem como único objetivo desmoralizar e escandalizar a família tradicional e fazer chacota com gente de bem. Até amigos mais próximos não entenderam, então cabe aqui uma pequena explicação.
A World Naked Bike Ride, conhecida no Brasil como Pedalada ou Bicicletada Pelada, acontece desde 2004 e a cada ano mais cidades se juntam ao protesto. Esta foi a segunda edição do Rio. De forma animada, com música, gritos de guerra, cartazes e pintura corporal, ativistas que utilizam transportes não poluentes, como a bicicletas, skates e patins, chamam atenção para algumas questões:
Eu com minha barcicleta: isopor com Heineken gelada e sistema de som com microfone sem fio |
Não somos invisíveis
Parece que quando estamos pedalando somos invisíveis, já que muitos motoristas agem como se não existíssemos. Mas quando estamos sem roupa somos facilmente notados. Será que a única forma de sermos percebidos é saindo pelados?
Indecente é a violência
Outro dia alguém escreveu sobre o último capítulo da novela: "ainda bem que não teve beijo gay, só filho tentando matar o pai e a irmã". Tá tudo muito errado, indecente é a violência que toma conta desta sociedade e não demostrações de afeto e corpos nus. Indecente é motorista bêbado ser solto depois de atropelar e matar.
Temos que ter vergonha do alto índice de assassinatos no trânsito
Deveríamos ter vergonha do sangue que tinge de rubro o asfalto toda vez que um pedestre ou ciclista é atropelado. É esse tipo de coisa que deve nos fazer sentir vergonha.
Somos frágeis
Não temos airbag, nem cinto de segurança e pára-choque. Tampouco uma tonelada de aço em volta dos nossos corpos para nos proteger. Somos apenas nós e a rua. A Bicicletada Pelada também tem esse objetivo, mostrar o quanto somos frágeis quando pedalamos.
Coloquei uma caixa de som na minha bike e com o microfone fui explicando tudo isso às pessoas, principalmente quando parávamos nos sinais e passávamos em frente aos bares cheios. Tivemos alguma cobertura da imprensa que citou nossos objetivos. É uma ação simbólica, que estimula a reflexão sobre o trânsito, por isso foi vitoriosa.
No final, todos tomamos banho no Leme, que estava com água limpa, quente e sem ondas, numa celebração à liberdade.
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